sábado, 25 de outubro de 2008

Um dia serei barco

Lá no fundo dança um barco.
Dança danças de mar.
O barco gira, o barco gira.
Na maré que o faz dançar.

Velho barco que está gasto.
Das ondas que viu passar.
É um barco e só um barco.
Naquele imenso e vivo mar.

Boa vida tem o barco.
Que vive a vida a dançar.
Um dia serei barco.
Um dia hei-de lá chegar.

Nuno Dias

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quero voar

Quero voar.
Voar e não voltar.
Voar e não parar, quero voar.

Quero ser vento e voar, quero ser vento e soprar.
Ter asas para fugir, ter asas para voar.

Quero saltar e dançar.
Abrir os braços e gritar.
Fechar os olhos e voar.
Oh sim, quero voar.

Voar para aqui, voar para ali.
Voar dali, voar daqui.

Voar só por voar.
Apenas porque voar é bom.
Apenas porque me faz lembrar.
De como é boa a vida.
Aquela vivida no ar.

Nuno Dias

O meu quarto

No meu quarto vivem monstros.
No meu quarto vivem fadas.
Nascem árvores do chão
Nascem vidas encantadas.

Oiço os rios e os mares.
Oiço os piratas e os corsários.
Sinto a areia e o calor ardente.
Oiço os camelos e os dromedários.

Tenho o mundo no meu quarto.
Tenho o quarto no meu mundo.
Tenho o quarto cheio.
Tenho o quarto imundo.

Nuno Dias

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Estou cansado

Estou cansado.
De sentir sem ser sentido.
Estou cansado.
De não me amares.
De estar perdido.

Estou cansado.
Pronto a fugir para outro lugar.
Estou cansado.
Pronto a lançar-me no céu.
Pronto a lançar-me no mar.

Cansado de ti.
Cansado do que me fazes.
Cansado daquilo que levas.
Cansado daquilo que não trazes.

Cansas-me a alma
Cansas-me o coração.
Amo-te porque sim.
Amo-te porque não.


Lopes Guerreiro (heterónimo)

Hoje vi-te

Hoje vi-te.
Descias a rua.
Lembrei-me de nós.
Da minha boca e da tua.

Com o vento veio o teu perfume.
Com o vento veio o teu calor.
Que me matou a saudade.
Que me matou a dor.

Um dia tocaste a minha cama.
Deixaste-lhe o teu rasto.
Á noite vejo a tua cara.
Que me ilude e me cura o corpo gasto.

Sonho em ter-te.
Aqui e agora.
Mas eu não estou onde tu estás.
E o amor em ti não mora.

Se um dia te tiver então tive.
Se um dia me fugires então vive.


Lopes Guerreiro (heterónimo)

Escrevo por tudo e por nada

Escrevo por tudo e por nada.
Escrevo a vida como a vejo.
Nesta mente fantasiada.

Escrevo a alma.
Escrevo o espírito.

Escrevo o que sinto.
Sinto o que escrevo.
Finjo escrevendo.
Aquilo que á vida devo.

Se não entendes então não chores.
Isto para mim é apenas vida.

Nuno Dias

Ruas

Sujas as minhas ruas.
Sujas das suas vidas.
Sujas de quem as suja.
Minhas ruas são vividas.

Escuras as minhas ruas.
Escuras pretas de carvão.
São escuras as minhas ruas.
São filhas da escuridão.

Nuno Dias

Oh (Minha) terra.

Hoje estive com muita gente.
Hoje nao estive com ninguém.
Hoje estive comigo e com todos.
Hoje estive comigo e com outros também.

Que gente é esta que nao me preenche ?
Que não me afecta nem me desperta ?
Será gente d'outro lugar?
É companhia mas não a certa.

Falta-me a gente, faltam-me os irmãos.
Aqui não damos abraços, aqui não damos as mãos.

Aqui é deserto.
Fata-me a terra, falta-me o mar.
Mata-se a sede com duras palavras.
Que falta me faz o "amar".

Aqui são rudes.
Criados para matar.
Usam armas e disfarces.
Na minha terra não é assim.
Usamos os amor e as amizades.

Oh terra, mítica terra.
Que falta me fazes á alma.
Oh terra, mítica terra.
Terra tranquila, terra calma.

Quando fecho os olhos estou no cais.
Sinto o cheiro da maré no ar.
Oh terra que me dá vida.
Não me deixes acordar.

Queria ser os barcos que amarras.
Queria ser as praias que banhas.
Para te ver nascer todos os dias.
Para te sentir as manhas.

Oh terra, mítica terra.
De onde vem essa mistíca tão pura.
Salva-me deste mundo á parte.
Quero sentir a tua cura.

Nuno Dias

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Menina

Porque é que me deixas assim ?
Depois de tanto tempo seria suposto chegar o fim.
Mas ele não vem e eu não consigo perceber.
Esta saudade, esta vontade, este querer.

Talvez para ti sejam apenas momentos.
Para mim é mais que isso, é o que fica cá dentro.

Sei que já não vens, sei que não me queres.
Sei que não o fazes por mal, sei que me feres.
Chega de lágrimas e de suspiros.
Chega de "facadas", chega de "tiros".
Aquilo que sinto é muito mais.
É forte quando estás, é fraco quando vais.

Ás vezes sonho com a tua cara.
Vejo-a no reflexo do mar, numa luz forte e clara.
Sonho com o teu corpo de menina.
Com o teu ar puro de criança pequenina.
Com a tua voz que perdura.
Com o teu toque que me domina.

Poesia isto não é, poeta eu não sou.
São palavras de um simples homem.
Simples homem que um dia amou.

Lopes Guerreiro (heterónimo)