segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Adeus Mundo

No meu corpo gasto rebenta a maré que me cobre de areia. O sol há muito me queima a pele, há muito me queima o espírito. Daqui já não saio, já nem forças me restam para o fazer. Sou apenas matéria pronta a ser consumida e esquecida. As gaivotas observam-me lá do alto interrogando-se quanto á minha presença neste lugar. Talvez me tomem por alimento, talvez me tomem por peixe graúdo que deu á costa pronto para morrer. Talvez não estejam muito longe da verdade. Resta-me esperar que a morte chegue e me traga o descanso, que me deixe voltar para casa, para onde realmente pertenço. A minha missão na terra terminou. A minha mensagem foi entregue. Passei o testemunho ao mundo. Estou pronto para partir, certo de que nada me faltou viver. Não que tenha vivido tudo, apenas vivi o suficiente. O suficiente para vos fazer ver que o bem vingou, que a ilusão de um mundo de paz se tornou hoje numa realidade pronta a ser seguida com a maior das lealdades. Vim por isso fechar os meus olhos nesta praia, para que possa sentir uma ultima vez a força da mãe terra, para que as ondas me apaguem na areia como se mais uma pegada eu fosse. Adeus mundo, adeus terra. Leva-me agora para longe, onde possa descansar em paz, onde possa ver os meus irmãos seguirem a palavra do todo poderoso. Adeus Mundo.

Nuno Dias

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Johanna

Não quero que vás
Temo que vás
Agora és eu
Sem mais olhar p'ra trás

Parte de mim e da vida
Cúmplice de irmandade
De amizade cometida

Irmãos decerto
Seja longe ou seja perto

Loucos da vida
Presos á força do além
Coisa nossa e só nossa
Coisa de mais ninguém

Inexplicavél tal coisa
Tao limpa, tão forte
É p' vida grito
É p' morte

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Falar de amor

Falar de amor é fácil.

É soltar as linhas.
É esperar pelos versos.

É deixá-lo correr e pairar.
Ele acaba por sair.
Ele acaba por se encontrar.

Depressa te traz.
Depressa te mostra.
É a ti que ele ama.
É de ti que ele gosta.

É em mim que ele nasce.
É em mim que ele cresce.
Que faria ele ?
Se outra a mim se -se ?

Seria forte concerteza.
Certo da sua amada.
Talvez pedisse um mundo a dois.
Talvez não quisesse mais nada.

Mundo meu

O sol nasceu.
O sol raiou.
Veio dar luz ao mundo.
Ao escuro mundo onde estou.

O sol brilhou.
O sol dançou.
Veio dar musica ao mundo.
Ao louco mundo p'ra onde vou.

Mundo de cores.
Mundo de formas.

Nesse mundo não há guerra.
Nesse mundo não há armas.
Conquistado pelos fortes de alma.
Que expulsaram os maus karmas.

Esse mundo é meu.
Esse mundo é teu.
É teu porque digo.
Porque me apeteceu.

Agora que o meu mundo é teu, és livre.
Livre de viver, livre de sentir.
Agora conheces o meu mundo.
Agora podes sorrir.

Nódoas

A vida é tinta.
Eu sou tela.
Solto pinceladas de vida.
Numa pintura tão bela.

Pinto a vida ás cores.
Pinto a vida assim.
Não passo sem a vida
A vida não passa sem mim.

Todo eu sou nódoas.
Nódoas de tinta.

Estou sozinho no meio de nódoas.
Estou sozinho no meio de vida.

Sem nódoas sou preto.
Escuro como breu.
Sem nódoas sou morte.
Nódoas é o meu mundo.
Nódoas é o teu.

Não me lavem as nódoas.
Não me lavem a vida.
Deixem-na gasta e suja.
Deixem-na longe e perdida.

As minhas nódoas são outras.
As minhas nódoas são vida.

sábado, 25 de outubro de 2008

Um dia serei barco

Lá no fundo dança um barco.
Dança danças de mar.
O barco gira, o barco gira.
Na maré que o faz dançar.

Velho barco que está gasto.
Das ondas que viu passar.
É um barco e só um barco.
Naquele imenso e vivo mar.

Boa vida tem o barco.
Que vive a vida a dançar.
Um dia serei barco.
Um dia hei-de lá chegar.

Nuno Dias

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quero voar

Quero voar.
Voar e não voltar.
Voar e não parar, quero voar.

Quero ser vento e voar, quero ser vento e soprar.
Ter asas para fugir, ter asas para voar.

Quero saltar e dançar.
Abrir os braços e gritar.
Fechar os olhos e voar.
Oh sim, quero voar.

Voar para aqui, voar para ali.
Voar dali, voar daqui.

Voar só por voar.
Apenas porque voar é bom.
Apenas porque me faz lembrar.
De como é boa a vida.
Aquela vivida no ar.

Nuno Dias

O meu quarto

No meu quarto vivem monstros.
No meu quarto vivem fadas.
Nascem árvores do chão
Nascem vidas encantadas.

Oiço os rios e os mares.
Oiço os piratas e os corsários.
Sinto a areia e o calor ardente.
Oiço os camelos e os dromedários.

Tenho o mundo no meu quarto.
Tenho o quarto no meu mundo.
Tenho o quarto cheio.
Tenho o quarto imundo.

Nuno Dias

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Estou cansado

Estou cansado.
De sentir sem ser sentido.
Estou cansado.
De não me amares.
De estar perdido.

Estou cansado.
Pronto a fugir para outro lugar.
Estou cansado.
Pronto a lançar-me no céu.
Pronto a lançar-me no mar.

Cansado de ti.
Cansado do que me fazes.
Cansado daquilo que levas.
Cansado daquilo que não trazes.

Cansas-me a alma
Cansas-me o coração.
Amo-te porque sim.
Amo-te porque não.


Lopes Guerreiro (heterónimo)

Hoje vi-te

Hoje vi-te.
Descias a rua.
Lembrei-me de nós.
Da minha boca e da tua.

Com o vento veio o teu perfume.
Com o vento veio o teu calor.
Que me matou a saudade.
Que me matou a dor.

Um dia tocaste a minha cama.
Deixaste-lhe o teu rasto.
Á noite vejo a tua cara.
Que me ilude e me cura o corpo gasto.

Sonho em ter-te.
Aqui e agora.
Mas eu não estou onde tu estás.
E o amor em ti não mora.

Se um dia te tiver então tive.
Se um dia me fugires então vive.


Lopes Guerreiro (heterónimo)

Escrevo por tudo e por nada

Escrevo por tudo e por nada.
Escrevo a vida como a vejo.
Nesta mente fantasiada.

Escrevo a alma.
Escrevo o espírito.

Escrevo o que sinto.
Sinto o que escrevo.
Finjo escrevendo.
Aquilo que á vida devo.

Se não entendes então não chores.
Isto para mim é apenas vida.

Nuno Dias

Ruas

Sujas as minhas ruas.
Sujas das suas vidas.
Sujas de quem as suja.
Minhas ruas são vividas.

Escuras as minhas ruas.
Escuras pretas de carvão.
São escuras as minhas ruas.
São filhas da escuridão.

Nuno Dias

Oh (Minha) terra.

Hoje estive com muita gente.
Hoje nao estive com ninguém.
Hoje estive comigo e com todos.
Hoje estive comigo e com outros também.

Que gente é esta que nao me preenche ?
Que não me afecta nem me desperta ?
Será gente d'outro lugar?
É companhia mas não a certa.

Falta-me a gente, faltam-me os irmãos.
Aqui não damos abraços, aqui não damos as mãos.

Aqui é deserto.
Fata-me a terra, falta-me o mar.
Mata-se a sede com duras palavras.
Que falta me faz o "amar".

Aqui são rudes.
Criados para matar.
Usam armas e disfarces.
Na minha terra não é assim.
Usamos os amor e as amizades.

Oh terra, mítica terra.
Que falta me fazes á alma.
Oh terra, mítica terra.
Terra tranquila, terra calma.

Quando fecho os olhos estou no cais.
Sinto o cheiro da maré no ar.
Oh terra que me dá vida.
Não me deixes acordar.

Queria ser os barcos que amarras.
Queria ser as praias que banhas.
Para te ver nascer todos os dias.
Para te sentir as manhas.

Oh terra, mítica terra.
De onde vem essa mistíca tão pura.
Salva-me deste mundo á parte.
Quero sentir a tua cura.

Nuno Dias

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Menina

Porque é que me deixas assim ?
Depois de tanto tempo seria suposto chegar o fim.
Mas ele não vem e eu não consigo perceber.
Esta saudade, esta vontade, este querer.

Talvez para ti sejam apenas momentos.
Para mim é mais que isso, é o que fica cá dentro.

Sei que já não vens, sei que não me queres.
Sei que não o fazes por mal, sei que me feres.
Chega de lágrimas e de suspiros.
Chega de "facadas", chega de "tiros".
Aquilo que sinto é muito mais.
É forte quando estás, é fraco quando vais.

Ás vezes sonho com a tua cara.
Vejo-a no reflexo do mar, numa luz forte e clara.
Sonho com o teu corpo de menina.
Com o teu ar puro de criança pequenina.
Com a tua voz que perdura.
Com o teu toque que me domina.

Poesia isto não é, poeta eu não sou.
São palavras de um simples homem.
Simples homem que um dia amou.

Lopes Guerreiro (heterónimo)